O tempo age sem alarde. Não anuncia seus movimentos nem pede licença para passar; simplesmente passa. Em sua marcha silenciosa, vai desfazendo os nós que a dor insiste em apertar, não por negação do sofrimento, mas por transformação. Aquilo que hoje fere, amanhã se torna cicatriz — e a cicatriz não dói, apenas lembra que houve um ferimento e que ele foi atravessado.
Há uma sabedoria discreta na ação do tempo. Ele não nos empurra com violência em direção ao que precisamos ser; antes, nos conduz com a paciência de quem conhece o ritmo exato das coisas. Assim como a brisa leve não elimina o sol do verão, mas torna seu ardor suportável, o tempo não apaga as perdas nem corrige de imediato os erros do passado. Ele nos ensina a habitá-los de outra forma, a respirar mesmo sob o calor das lembranças.
A tristeza, quando chega, costuma nos convencer de que o momento presente é definitivo, de que o estado da alma será eterno. Mas o tempo desmente essa ilusão. Ele nos lembra que tudo o que é humano é transitório: a dor, o medo, a angústia, o desamparo. Permanecer não é o mesmo que durar para sempre. Mesmo os sentimentos mais densos se dissolvem, pouco a pouco, quando atravessados pela continuidade dos dias.
Não se deixar abater pela tristeza não significa rejeitá-la ou fingir força. Significa confiar que ela não é o fim do caminho, apenas uma de suas curvas. O tempo, com sua fidelidade silenciosa, segue trabalhando enquanto vivemos, enquanto sofremos, enquanto esperamos. E quando menos esperamos, percebemos que algo se suavizou: o peso diminuiu, o fôlego voltou, a vida encontrou uma nova forma de seguir.
Confiar no tempo é, no fundo, um ato de esperança serena. É aceitar que há processos que não dependem da pressa, mas da permanência. E que, mesmo quando tudo parece ardente demais, há sempre uma brisa em movimento — invisível, constante, infalível — nos conduzindo adiante.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense






